Como a escalada dos juros impacta os investimentos?

Como a escalada dos juros impacta os investimentos?

Entenda como o cenário global interfere nas aplicações da B3

No início de maio, o Banco Central (BC) anunciou um novo aumento na taxa Selic, desta vez em um ponto percentual, chegando na casa dos 12,75% ao ano. A preocupação com a inflação, que permanece avançando nas principais economias globais, se agravou em decorrência da guerra no leste europeu e o retorno de medidas restritivas na China por conta da pandemia, e fez com que o mercado reveja as suas projeções até o fim de 2023.

O último Relatório Focus divulgado segunda-feira (02/05), revelou que as expectativas para a Selic permaneceram estáveis em 2022, a 13,25%. Já para 2023, as projeções subiram de 8,5% ao ano para 9,25% ao ano, indicando que a renda fixa deve continuar com a preferência dos brasileiros no próximo ano.

Lucas Sharau.

“Esse aumento sinaliza ao mercado que o Banco Central está aplicando medidas cabíveis para controlar a inflação que ainda não apresenta sinais de queda. Caso os indicadores econômicos não sinalizem esse controle da inflação no Brasil, será necessário prolongar um pouco mais esse ritmo de aumento de taxas de juros”, explica Lucas Sharau, assessor de investimentos na iHUB Investimentos.

Para tomar a decisão de subir ou descer os juros, além de indicadores de atividade econômica, fluxo cambial, emprego e a evolução do Produto Interno Bruto (PIB), o Comitê de Política Monetária (COPOM) utiliza-se do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que é o principal indicador que a diretoria do Banco Central utiliza para sua tomada de decisão.

Em maio, o IPCA acumulado nos últimos 12 meses chegou a 12,13%, contra a meta de 3,5% promovida pelo Banco Central para o ano.

Investimentos em renda fixa estão rendendo 1% ao ano

A Selic é a taxa que o Banco Central utiliza para remunerar o investidor em seu principal título de investimento: o Tesouro Selic. Também conhecido por LFT (antiga Letra Financeira do Tesouro), é a principal opção para o investidor que busca reserva de liquidez, além de ser o investimento com maior grau de segurança no país.

Na sequência, os investimentos que também são favorecidos pagam taxas de juros bancárias, o CDI, por exemplo, por ser uma taxa praticada pelos bancos privados muito próxima da Selic, cotada a 12,65%. Investimentos que pagam 100% do CDI estão rendendo cerca de 1% ao mês.

Além do Tesouro Direto, o especialista da iHUB, Lucas Sharau, cita mais cinco opções de investimentos que estão rendendo mais por conta das recentes altas da taxa Selic:

1) CDBs – Certificado de Depósito Bancário

2) LCI – Letra de Crédito Imobiliário:

3) LCA – Letra de Crédito do Agronegócio

4) LC – Letra de Câmbio

5) Fundos de investimento Referenciados DI

Estados Unidos vão atrair investidores com aumento dos juros?

O aperto monetário visto nos Estados Unidos está sendo sentido no Brasil. A escalada de juros para conter a maior inflação vista no país nos últimos 40 anos, cerca de 8,3% no acumulado dos últimos 12 meses, deve terminar com uma taxa de 3,5% no final de 2022. Jerome Powell, presidente do Banco Central Americano, afirmou nesta terça (17/05) que aplicará todas as medidas possíveis para frear a inflação no país.

A sequência de altas em 0,5% iniciada em maio, como indicado pelo FED, fortalece os títulos públicos como o T-10 (Tesouro Americano de 10 anos), e aplicações de renda fixa consideradas as mais seguras para investidores no mundo, visto que os Estados Unidos são tidos como um porto seguro para investimentos.

“O fato dos juros nos EUA estarem subindo faz com que uma grande quantidade de dinheiro saia do Brasil em busca da segurança que o Tesouro Americano pode oferecer em rentabilidades mais atrativas, sobrando um pouco menos de dinheiro para posições mais especulativas como no Brasil e outros países emergentes”, comenta.

Ainda segundo o especialista, os gestores que lidam com grandes fortunas precisam decidir o que é mais importante neste momento. Manter a segurança de sua existência e, em segundo plano, equilibrar os mais diversos aspectos de rentabilidade e manutenção do poder de compra com diversificação e coerência, é a expectativa do mercado.

Como fica a B3 neste cenário?

Em cinco meses, a bolsa brasileira já ultrapassou os 120 mil pontos e esteve próxima de cair abaixo dos 100 mil, ou seja, a volatilidade é uma constante no momento. Mesmo diante deste cenário, segundo a XP Investimentos, a previsão de fechamento da bolsa em 2022 é na casa dos 130 mil pontos, maior índice histórico.

“A bolsa brasileira é composta na sua maioria por commodities, mas também possui em sua composição outros segmentos, cada um em seu momento, sendo que muitos deles ainda têm perspectivas positivas de crescimento para investimentos mais longos do que seis meses a um ano”, afirma Sharau.

No próprio segmento de commodities, segundo o especialista, existem resquícios dos impactos da pandemia, e os preços de algumas empresas ainda podem estar descontados em relação aos preços considerados “justos” por suas ações.

Para concluir, Sharau comenta que o investidor com um perfil não tão arrojado, posicionado na bolsa brasileira e que não deseja sofrer grandes impactos nos próximos seis meses, deve comprar proteção ou sair desta posição, pois o fluxo de dinheiro extrangeiro não deve retornar no curto prazo.

“Entre janeiro e março tivemos 62 pregões, e o estrangeiro fechou com saldo comprador positivo em 57 deles. Mas, desde a virada do trimestre em abril, foram 19 pregões com 14 deles o capital extrangeiro sendo mais vendido do que comprado, ou seja, o investidor vem retirando dinheiro da bolsa brasileira e levando para outra vertente de investimento”, finaliza.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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