Setor de BPO expande emprego na contramão da economia
De 2010 a 2021, a taxa de crescimento do emprego no Brasil foi de 13%. No segmento de BPO (Business Process Outsourcing) o mesmo indicador teve expansão de 149%, 11 vezes superior à soma nacional. O dado faz parte do Panorama do Ramo de Serviços de Apoio Administrativo realizado pela Associação Brasileira de Provedores de Serviço de Apoio Administrativo (Abrapsa). O levantamento usa os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), liberados em dezembro de 2022 e analisados pelo professor Victor Pelaez, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná.
Dentro do setor de serviços, o BPO se divide em cinco segmentos: contabilidade; consultoria e auditoria contábil e tributária; consultoria em gestão empresarial; serviços combinados de escritório e apoio administrativo; preparação de documentos e serviços especializados de apoio administrativo não especificados.
Os dados destacam um forte crescimento do BPO no Brasil, tanto em vagas como em estabelecimentos. O número de empregados cresceu cerca de 150%, enquanto o número de estabelecimentos aumentou 55%. O setor é composto desde empresas de pequeno porte (com até 19 empregados), as quais correspondem ao maior número de estabelecimentos, com 48%. Aqueles sem empregados vêm em seguida, com 42%. O setor é composto principalmente por empresas de pequeno porte, com cerca de 73% dos estabelecimentos optantes do Simples.
O foco da Abrapsa está no topo dessa pirâmide e são as corporações com mais de 50 empregados. “Somos uma associação com viés empresarial dessas empresas de maior porte, que investem recursos relevantes em tecnologia e inovação”, diz Manoel Valle, presidente da Abrapsa.
O emprego no BPO permaneceu estável ou cresceu mesmo nos momentos de crise econômica mais intensa, incluindo os dois primeiros anos da pandemia. Para Eduardo Luque, vice-presidente da entidade e diretor financeiro, a imunidade do setor à crise econômica tem múltiplas causas. “Historicamente, não é incomum que empresas de BPO cresçam em torno de 20% ao ano – com a economia aquecida, acima de 30%. E, nas crises, não perdemos muitos clientes. Primeiro, pelas relações de absoluta confiança construídas ao longo de anos de parceria. Depois, porque oferecemos serviços com perfil consultivo e que agrega valor aos negócios das empresas que se utilizam dos serviços de BPOs estruturados, e por fim pela natureza regulatória de parte de nossos serviços profissionais, que são obrigatórios, como o atendimento às questões societárias e fiscais, e dentro desse contexto os nossos clientes preferem confiar a profissionais altamente especialistas o atendimento completo e com segurança de todos esses requisitos de compliance”.
Segundo Pedro Ackel, diretor jurídico da Abrapsa, “não podemos também nos esquecer de que o Brasil é um dos ambientes mais complexos no mundo para a apuração dos impostos e tributos e o atendimento de todas as respectivas obrigações acessórias. Além disso, nos últimos anos houve uma necessidade maior pela contínua redução de custos por parte das empresas diante das diversas instabilidades e crises econômicas, que é um dos maiores componentes de atratividade para a busca de parcerias com BPOs por parte das empresas”.
Luque destaca ainda a implantação do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED), que propiciou diminuição da informalidade e grandes oportunidades para os BPOs que atuam rigorosamente dentro da aplicação integral das leis contábeis e fiscais, entre outras.
Nessa conjuntura, a perspectiva é que a oferta de vagas permaneça em alta nos próximos meses. “Considerando que o índice de terceirização em outsourcing no Brasil ainda é muito baixo, essa tendência deve se manter por muitos anos. Temos uma avenida de crescimento pela frente”, diz Valle. De acordo com ele, devem continuar na liderança do segmento, as empresas que oferecerem atendimento consultivo e voltado para o apoio ao negócio dos clientes nas áreas fiscal, contábil, folha de pagamento e financeiros.
Liderança paulista
De 2010 a 2021, a média salarial do segmento de BPO foi de R$ 3,4 mil, variando de acordo com a economia, e diminuindo durante as crises de 2015 e após 2018. Este valor é 17% maior que a média dos salários no Brasil, que ficou em R$ 2,9 mil. O Estado de São Paulo, porém, surge como destaque: em 2021 liderou o indicador e apresentou média ainda maior, de R$ 4,5 mil.
São Paulo também se sobressai frente aos demais Estados em número de empregos no setor, já que concentrou 34% das ocupações em 2021. No ranking, Minas Gerais vem em segundo lugar, com 12% e Rio de Janeiro em terceiro, com 9%.
Luque destaca a importância do Estado de São Paulo no constante crescimento do ramo de BPO no Brasil. “Mesmo diante das sucessivas crises enfrentadas pela economia brasileira, surpreende a resiliência de São Paulo no segmento de BPO. O Estado apresenta números bem superiores à média nacional – e com viés de alta para os próximos anos.”
Força do interior
Segundo a pesquisa, a capital paulista tem cerca de 170 mil pessoas trabalhando em BPO e 13 outros municípios paulistas estão no ranking dos 20 que mais empregam na região Sudeste. São eles: Barueri (17.056), Campinas (11.399), São Bernardo do Campo (6.500), Ribeirão Preto (5.830), Sorocaba (4.831), Guarulhos (4.692), Santo André (4.317), São José dos Campos (4.244), Santos (3.905), Jundiaí (3.764), São Caetano do Sul (3.531), São José do Rio Preto (3.078) e Osasco (2.938).
A cidade ainda lidera o ranking de média salarial entre os 20 municípios do Sudeste com mercado de trabalho amplo (cidades com mais de 5 mil empregos em BPO), com R$ 6,4 mil, e traz com ele sete municípios dos 13 citados acima.
“O BPO é uma maneira eficiente de fomentar o empreendedorismo, uma vez que permite que as empresas foquem seu core business, oferecendo a elas a possibilidade de resolver questões contábeis, fiscais e administrativas com o apoio de especialistas. E essa pesquisa revela que este setor está crescendo cada vez mais, gerando empregos e impacto para a economia do Estado”, diz Luque.