Fabricantes querem mais medidas protecionistas para elevar preço de pneu importado

Fabricantes querem mais medidas protecionistas para elevar preço de pneu importado

Anip quer que governo aumente a alíquota do Imposto de Importação para pneus de automóveis e de carga

A Associação Nacional da Indústria de Pneus (Anip) quer entrar no vácuo de recentes decisões protecionistas do governo, que beneficiam o setor de aço e químico, para emplacar aumento de tarifa sobre pneus importados. Se der certo, o consumidor poderá ver o produto ficar mais caro.

O pleito acontece após um período de queda de preços no setor. Em 12 meses, o pneu ficou 7,75% mais barato, de acordo com o IPCA. “Os efeitos do aumento tarifário seriam muito danosos para os elos da cadeia produtiva. O setor de transportes teria de repassar mais custos para os produtos fretados”, diz Ricardo Alípio, presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip).

A Anip solicitou à Câmara de Comércio Exterior (Camex), em 22 de abril, a inclusão dos códigos 40.11.10.00 e 4011.20.90 da NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul) na Lista de Desequilíbrios Comerciais. O objetivo é aumentar a alíquota do Imposto de Importação para pneus de automóveis e de carga de 16 para 35%, ou seja, 120% de aumento.

Os fabricantes nacionais sugerem estar ocorrendo um “surto de importações” de pneus asiáticos que estaria prejudicando a indústria brasileira, sonegando ao governo a informação de que a própria indústria foi a principal importadora nesses últimos anos para compensar sua incapacidade produtiva em solo brasileiro. Segundo a associação, barreiras tarifárias e novas exigências de sustentabilidade nos EUA e na Europa estariam direcionando o fluxo de pneus asiáticos para o Brasil, o que é pura narrativa sem nenhum respaldo fático e jurídico.

Na visão da Abidip, as alegações da Anip são frágeis e genéricas. Primeiro porque não comprovam desequilíbrios comerciais ocasionados pela conjuntura econômica internacional. “O pleito carece de dados regionais do Mercosul e evolução de índice de preços, como o da borracha, por exemplo”, diz Alípio.

Como dito, a Anip omitiu em seu pedido junto ao governo que suas associadas importam pneus de suas fábricas nos EUA, Japão, Europa e Argentina, maquiando o propalado “surto de importações”.

De acordo com a Abidip, as importações de pneus aumentaram com a retomada econômica do pós-covid e para suprir a demanda brasileira devido à insuficiência da capacidade produtiva local.

O pleito dos fabricantes também não comprova desequilíbrios ou prejuízos à indústria entre 2020 e 2023, quando as vendas internas permaneceram estáveis, havendo, inclusive, aumento da produção e redução da capacidade ociosa.

A Anip cita, de forma genérica, leis dos EUA e UE de combate ao trabalho forçado e desmatamento, afetando preocupações relativas à sustentabilidade, mas não prova como esses argumentos se relacionam com as importações de pneus asiáticos. “São especulações que visam impactar a decisão da Camex, sem fornecer uma análise baseada em fatos”, afirma o dirigente da Abidip.

Por outro lado, as importações de pneus asiáticos pelos EUA e Europa permaneceram estáveis ou cresceram, justamente porque são produtos que adotam práticas sustentáveis e possuem tecnologia de ponta em sua fabricação.

“A indústria nacional já desfruta de medidas de defesa comercial há muitos anos em pneus de carga e de passeio. Essa proteção garante reserva de mercado e lucratividade extraordinária às fabricantes brasileiras”, lembra o presidente da associação dos importadores e distribuidores.

Atualmente, há quatro regras de proteção à indústria nacional de pneumáticos em vigor. Duas são aplicadas para pneus de automóveis importados da China, Coreia do Sul, Tailândia e Taipé Chinês, e duas que se aplicam para pneus de carga vindos da China, Coreia do Sul, Japão, Rússia e Tailândia.

Onda protecionista

Nos últimos meses, diversos setores da indústria nacional vêm pressionando o governo por medidas de proteção. Alguns estão conseguindo êxito.

No aço, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) Brasil estabeleceu cotas máximas e elevou tarifas de importação para produtos siderúrgicos. A medida, válida por 12 meses, visa limitar a entrada de aço importado, afetando 11 NCMs do Mercosul (NCM significa Nomenclatura Comum do Mercosul que uniformiza a classificação de mercadorias).

O objetivo é proteger as siderúrgicas nacionais do “surto de importações chinesas” e não deve impactar os preços ao consumidor ou produtos derivados da cadeia produtiva, segundo o MDIC. O governo quer contribuir para reduzir a capacidade produtiva da siderurgia nacional e vai monitorar os preços durante esse período.

No setor químico, com a indústria nacional enfrentando competição de produtos asiáticos mais baratos e eficientes, os produtores brasileiros pedem medidas que incluem a redução do custo de matérias-primas, a adoção de mecanismos de defesa comercial e o aumento da oferta de gás natural.

No entanto, tanto o setor de aço quanto o setor químico não são dependentes da importação como são os produtores nacionais de pneus.

Fabricantes querem mais medidas protecionistas para elevar preço de pneu importado

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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