Guerra comercial pode encarecer tecnologia e afetar competitividade

Guerra comercial pode encarecer tecnologia e afetar competitividade

Taxação sobre serviços tecnológicos importados pode elevar custos para empresas e afastar investimentos do país

O surgimento de uma possível guerra comercial que envolva Estados Unidos e Brasil levanta preocupações sobre os impactos no setor de tecnologia nacional. Caso o governo brasileiro decida retaliar as tarifas impostas pelos EUA com a taxação de empresas de tecnologia americanas, fato que chegou a ser ventilado nos últimos dias, o custo da inovação no país pode subir drasticamente. O impacto não se restringiria às grandes corporações, mas atingiria todo o ecossistema de negócios que depende de softwares, servidores e infraestrutura digital para operar.

Serviços de tecnologia estrangeiros já são amplamente tributados no Brasil. Atualmente, a carga sobre cloud computing, CRM, APIs e cibersegurança pode chegar a 45%. Um acréscimo de 25% elevaria essa taxação para cerca de 70%, tornando proibitivo para muitas empresas manterem suas operações com tecnologia de ponta.

“Se essa taxação adicional se concretizar, o Brasil pode se tornar um dos países mais caros do mundo para a adoção de tecnologia”, alerta Lisandro Vieira, CEO da WTM, empresa especializada em tributos internacionais, cross-border payments e compliance, com mais de 20 anos de atuação e 4.200 clientes atendidos.

A medida, segundo Vieira, criaria dificuldades não apenas para empresas de tecnologia, mas para qualquer compania que utilize ferramentas digitais para otimizar suas operações. Setores como fintechs, games e e-commerce seriam diretamente impactados, já que dependem de tecnologia para oferecer produtos e serviços.

“A indústria de games, por exemplo, precisa de servidores e infraestrutura robusta. Se os custos de importação aumentarem, pode haver uma desaceleração do setor e até a perda de competitividade para outros mercados”, ressalta Vieira.

Além do aumento de custos, há o risco de que empresas optem por realocar suas operações para países com uma tributação mais amigável.

“Poderíamos ter uma fuga de empresas do Brasil, pois ficaria muito caro manter operações que dependem de software e tecnologia americana”, avalia o especialista. A saída de negócios do país não apenas reduziria empregos na área de tecnologia, mas também afetaria a arrecadação de impostos e o desenvolvimento do setor digital brasileiro.

A possibilidade de uma taxação adicional também pode mudar o equilíbrio do mercado, abrindo espaço para novos fornecedores, especialmente da China.

“Se o Brasil criar barreiras contra os serviços das big techs americanas, há um risco real de que as empresas passem a buscar soluções chinesas, o que poderia transformar a dinâmica do setor de tecnologia no país”, destaca Vieira. Enquanto os EUA tentam reduzir sua dependência da China, o Brasil poderia acabar reforçando essa dependência ao buscar alternativas.

Do ponto de vista legal, a criação de um novo tributo não poderia ser feita de forma imediata, devido aos princípios da anualidade e anterioridade tributária. Isso significa que, mesmo que o governo brasileiro opte por uma taxação adicional, ela só poderia entrar em vigor no ano seguinte. No entanto, apenas a discussão sobre o tema já gera instabilidade no mercado e incerteza para empresas e investidores.

O Brasil também precisa definir seu posicionamento estratégico em um cenário global de mudanças nas cadeias de fornecimento. Vieira, que lidera o Grupo Temático de Internacionalização da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), destaca que essa preocupação já tem sido discutida entre as empresas do setor. “As big techs americanas não são as únicas afetadas. O impacto se espalha por toda a economia digital brasileira, tornando-a menos atrativa para investimentos”, explica.

Diante da incerteza, o governo brasileiro precisa considerar os impactos de uma retaliação tarifária no longo prazo. “Mais tributos e barreiras comerciais vão apenas aumentar o Custo Brasil e dificultar ainda mais a inovação. O caminho para fortalecer a tecnologia nacional passa por redução de custos, incentivos e uma visão estratégica de longo prazo”, afirma Vieira.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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