São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro lideram ranking da gestão do território

São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro lideram ranking da gestão do território

Itajaí é o município de maior destaque entre os que não são capitais nem pertencem a uma metrópole

Em 2024, apenas 39,1% dos municípios brasileiros se qualificavam como Centros de Gestão do Território (2.176 municípios), total ligeiramente inferior aos 39,6% (2.204 municípios) identificados no estudo de 2014. São Paulo (SP) permanece no topo da gestão, seguido de Brasília (DF) e do Rio de Janeiro (RJ), que também mantiveram suas posições no ranking nacional. O resultado demonstra o papel de comando que os três municípios exercem na rede urbana brasileira, tanto do ponto de vista empresarial quanto do da gestão pública. Itajaí (SC) é o município de maior destaque entre os que não são capitais nem pertencem a uma metrópole.

Essas informações fazem parte da pesquisa Gestão do Território 2024, divulgada nesta quarta-feira (26), que identifica os Centros de Gestão existentes no universo dos 5.570 municípios do país. O estudo traz aspectos sobre a Gestão Empresarial, com enfoque para os municípios com atividades empresariais que atuam de forma articulada a outros municípios; e aspectos sobre a Gestão Pública, identificando as redes hierárquicas de gestão de uma série de instituições públicas com unidades descentralizadas, em níveis federal e estadual.

De acordo com Marcelo Motta, gerente da pesquisa, essas informações são importantes para identificar os centros urbanos que concentram a capacidade de comando e controle do país e para compreender como as diferentes cidades e regiões se articulam por meio de redes de gestão do território:

“Os relacionamentos a distância dos agentes econômicos e políticos ajudam a definir o papel das cidades. De um lado, o Estado, através de seus organismos públicos, atende a população, levanta dados, recolhe tributos, executa políticas públicas. De outro, as empresas que, para garantirem lucratividade, vão ter suas estratégias particulares de atuação e de organização no espaço”.

Apesar de representarem uma pequena porcentagem do total (2,2%), em 2021 empresas multilocalizadas estavam presentes em 99,9% dos municípios

A parte da pesquisa sobre a Gestão Empresarial cobre os municípios com atividades empresariais que atuam de forma articulada com outros municípios, e os pares de cidades que se relacionam mais intensamente. Para compreender essas relações, o estudo contemplou as empresas multilocalizadas: aquelas que estão presentes, simultaneamente, em diversos pontos do território, com suas unidades instaladas em diferentes municípios. Assim, foram selecionadas do Cadastro Central de Empresas (Cempre) as unidades que possuíam pelo menos uma filial em município diferente daquele onde se localizava a sua sede.

Em 2012, as empresas multilocalizadas eram 1,9% do total de empresas pesquisadas e passaram para 2,2% em 2021.Apesar de representarem uma pequena percentagem do total, em 2021 estavam presentes em 99,9% dos municípios. Entre 2012 e 2021, o percentual de participação dessas empresas em relação às empresas em geral variou 0,3%, passando de 1,9% (2012) para 2,2% (2021). Porém, quanto ao crescimento relativo, enquanto as empresas em geral apresentaram alta de 13,0% no mesmo período, as multilocalizadas registraram um crescimento de 32,5%.

Aumento das multilocalizadas

De acordo com o gerente da pesquisa, os motivos para o aumento das multilocalizadas não foram captados diretamente pela pesquisa. “Normalmente, são processos complexos e com múltiplas causas, como as fusões e aquisições, que levam ao crescimento de redes varejistas, ou o aumento de relevância dos setores de transporte de carga e logística, dado o crescimento do comércio eletrônico”, esclarece.

Em termos regionais, a Região Sudeste possui a maior concentração de empresas multilocalizadas (45,4%). No entanto, de 2011 para 2021, essa concentração se reduziu nas Regiões Sudeste e Sul para aumentar nas demais regiões, com destaque para o Nordeste, que passou de 15,3% de unidades locais, em 2011, para 17,0%, em 2021.

São Paulo detinha a primazia da Gestão Empresarial em 2021

Uma vez estabelecidas as relações entre municípios, a pesquisa calculou a intensidade das ligações por município, que é um indicador composto pelo somatório do número de sedes e filiais das empresas multilocalizadas para cada município brasileiro. Quanto maior a intensidade atribuída a um município, maiores são as suas interações com os demais, não importando a distância entre eles.

“Não levamos em consideração se a empresa é sede ou filial. Ambas têm o mesmo valor, o mesmo peso, porque, assim, um município que concentra muitas sedes, é óbvio que ele tem uma concentração de poder, mas o município que concentra muitas filiais também tem uma centralidade relevante. A filial pode ser só uma executora, como também pode ser um centro de pesquisa e desenvolvimento, um lugar importantíssimo”, explica Marcelo.

De acordo com Evelyn Pereira, gerente substituta e assistente da pesquisa, o objetivo é ver como esses municípios se comportam em rede. “Ele é um nó importante na rede? Esse município, do ponto de vista empresarial, é uma referência para vários outros? É isso que significa essa intensidade”, complementa.

Ao se analisar a intensidade das ligações por pares de municípios (ligações de sedes e filiais de empresas), o par de maior valor é São Paulo (SP)-Rio de Janeiro (RJ).

Em função de suas ligações, São Paulo (SP) é o município que detém a primazia da Gestão Empresarial em 2021, seguido do Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF).

Barueri, Osasco e Guarulhos, municípios da área metropolitana de São Paulo, também possuem posições relevantes no mesmo ranking, realçando a centralidade da metrópole paulista.

Em uma década houve pouca variação na representação das centralidades municipais, mas é possível registrar a ascensão no ranking nacional de centralidades intermediarias, como Cuiabá (MT), Belém (PA), Manaus (AM) e, em especial, Itajaí (SC), que abriga um número expressivo de sedes e filiais de empresas multilocalizadas.

Em 2021, das cinco principais atividades das empresas multilocalizadas, três eram do setor de saúde

Ao observar os setores nos quais atuam as empresas multilocalizadas, as maiores concentrações se encontram nos setores do comércio (43,8%) e de serviços (36,2%), muito à frente da indústria (16,7%) e da agropecuária e extrativismo (3,3%). Em termos de atividades, em 2021, das cinco principais, três eram do setor de saúde. O setor de transporte foi o principal destaque nesse ano, seguido do comércio varejista de vestuário, invertendo a ordem apresentada em 2012.

Em 2012, das cinco principais atividades das sedes das empresas multilocalizadas, quatro pertenciam ao setor varejista, enquanto, atualmente, apenas o comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios figura com destaque. Já o setor de transporte ganhou importância relativa, o que pode estar relacionado ao crescimento do comercio online e à necessidade de entrega das mercadorias.

“Esse aumento de transporte de carga era esperado. Antes, o primeiro colocado era o comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios, que é algo importante até hoje. Isso faz sentido, então, quando a gente relaciona com a distribuição de produtos comprados online hoje, que é consistente com o fato de o transporte de carga  ser algo muito dinâmico, que precisa ter muitas unidades descentralizadas em vários municípios”, esclarece Evelyn.

Ainda segundo a pesquisadora, chamam atenção as atividades farmacêuticas, que incluem atividades de atenção ambulatorial executadas por médicos e na área de odontologia, redes de clínicas, produtos farmacêuticos (para humanos e animais), atividades de serviços de complementação diagnóstico e terapêutica, entre outras.

São Paulo foi o município com o maior número de assalariados externos

Também é possível medir o porte das ligações empresariais entre municípios pelo número de assalariados externos ao município da sede da empresa. Para isso, a pesquisa levantou o total de empregados que trabalham em estabelecimentos (fábrica, loja varejista, agência bancária etc.) de uma empresa cuja sede social está localizada em um município diferente.

Em 2021, São Paulo (SP) foi o município com o maior número de assalariados externos (1.855.722), o que significa um crescimento de 17,4% em relação a 2012. Dentre os dez municípios que lideraram esse quesito, o Rio de Janeiro (RJ) ficou em segundo lugar, com 486.696 assalariados externos, seguido por Brasília, com 315.047.

Entre as cidades que mais apresentaram crescimento relativo do número de assalariados externos, Itajaí (SC) se destaca, por seu setor industrial e pelo polo naval/portuário. Além disso, o município reúne um número significativo de sedes e filiais de empresas multilocalizadas, superando o quantitativo de capitais estaduais como Belém, Manaus e Cuiabá.

Brasília é o principal centro da Gestão Pública do país

Outra vertente da pesquisa é a Gestão Pública. Ela analisa as estratégias territoriais de atuação do Estado, com base na articulação em rede dos centros urbanos, tendo como referência a ação do poder público e a conexão hierarquizada entre municípios, formando uma escala de subordinações que pode chegar até o nível federal.

“A gente tem como pressuposto que o Estado organiza o espaço geográfico por meio das suas organizações, tanto diretamente como pelas instituições públicas que estão descentralizadas nas cidades. É essa distribuição espacial dos órgãos públicos que gera a capacidade de decisão e mostra a maneira como o Estado organiza o próprio espaço”, diz Marcelo.

O principal centro urbano responsável pela gestão pública do país é Brasília (DF), capital federal e sede nacional da maior parte das instituições públicas, que ocupa, isoladamente, a maior de centralidade de gestão pública, atuando como principal de gestor da estrutura administrativa estatal. O Rio de Janeiro (RJ) ocupa a segunda posição, o que pode ser explicado por ainda possuir várias instituições públicas do período em que foi capital federal. São Paulo e Recife completam a lista de municípios no segundo nível de centralidade de gestão pública.

Os três primeiros níveis de centralidade de gestão pública são ocupados exclusivamente por municípios que são núcleos de metrópoles. Juntos, esses municípios compõem os centros urbanos mais influentes do Brasil, além de concentrarem a maior parte da população. A região Nordeste concentra o maior percentual de municípios que não são Centros de Gestão Pública (31,5%) ou que têm baixo nível de centralidade (37,8%).

Ranking dos Municípios, segundo os níveis de centralidade de gestão pública

Níveis de Gestão Pública Municípios
1 Brasília (DF)
2 Rio de Janeiro (RJ)
São Paulo (SP)
Recife (PE)
3 Belo Horizonte (MG)
Porto Alegre (RS)
Curitiba (PR)
Fortaleza (CE)
Salvador (BA)
Belém (PA)
Florianópolis (SC)

Para compor o quadro da Gestão Federal, a pesquisa selecionou um conjunto de instituições multilocalizadas: IBGE, INSS, Justiça Federal, Ministério do Trabalho e Emprego, Receita Federal, Justiça Eleitoral e Justiça do Trabalho. Entre elas, com maior capilaridade territorial é a Justiça Eleitoral, que está presente em 2.028 municípios.

Quanto à Gestão Estadual, foram consideradas as Secretarias Estaduais de Educação e de Saúde.  Um total de 528 municípios receberam reforço no indicador de centralidade de gestão pública em função de seu papel na gestão estadual. Assim, em função da contribuição desse indicador, 25% dos Centros de Gestão Pública foram melhores qualificados, sobretudo em municípios de médio porte com influência relevante nos contextos estaduais.

Itajaí ocupa a 26ª posição no ranking nacional de Gestão do Território

Os municípios que se qualificam como Centros de Gestão do Território são aqueles que possuem, simultaneamente, entidades de instituições públicas descentralizadas e unidades locais de empresas multilocalizadas, quer sejam elas sedes ou filiais. Com base nesse critério, mais da metade os municípios brasileiros não podem receber essa classificação, pois somente 2.176 (39,1%) municipalidades possuem as duas estruturas.

Em 2024, os três municípios com o maior nível de Gestão do Território foram São Paulo (SP), Brasília (DF) e Rio de Janeiro (RJ), mostrando a centralidade da capital paulista na Gestão Empresarial, Brasília como principal centralidade da Gestão Pública e o Rio de Janeiro como segundo colocado em ambos os tipos de gestão.

Sobre esse indicador, Itajaí (SC) é o município de maior valor dentre os que não são capitais nem componentes de metrópole, ocupando a 26ª posição no ranking nacional.

O resultado foi impulsionado principalmente pelo desempenho do município no indicador de intensidade empresarial, ao abrigar um número expressivo de sedes e filiais de empresas multilocalizadas, superando até mesmo o indicador de capitais estaduais como Manaus (AM), Cuiabá (MT) e Belém (PA).

“Tem uma pujança grande no estado de Santa Catarina, que não está restrita à capital. Isso é uma coisa que interessa muito, porque cada vez mais as cidades do interior do estado têm maior papel econômico e político”, avalia Evelyn. Já Marcelo destaca o forte papel da rede urbana de Santa Catarina, ao contrário de outrosestados, que têm grande centralização na capital: “Em Santa Catarina, você tem Chapecó, Joinville e Itajaí. Há uma rede urbana mais distribuída”.

Em 2024, 2.176 municípios foram classificados como Centros de Gestão do Território, total ligeiramente inferior aos 2.204 levantados pela pesquisa em 2014. A variação pode ser explicada pela redistribuição de zonas eleitorais e de Agências do INSS.

“A maioria dos municípios brasileiros está absolutamente fora do centro de gestão do território. São 3.394 municípios pequenos e com média de 8.000 habitantes. Então, é uma coisa que se retroalimenta. Quanto maior a gestão do território, maior vai ser a hierarquia do município e ele vai ser atrativo para novas atividades”, conclui Marcelo.

 

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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