Split payment desafia gestão tributária nas empresas

Split payment desafia gestão tributária nas empresas

Mecanismo previsto na Reforma Tributária reforça a urgência de capacitação técnica

A implantação do split payment como novo modelo de arrecadação de tributos a partir de 2027 inaugura uma etapa inédita de complexidade para empresas, instituições financeiras e profissionais da área fiscal. Prevista na regulamentação da Reforma Tributária, a medida integra o conjunto de transformações que substituirá cinco tributos sobre o consumo — ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins — por três novos: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência estadual e municipal; a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de natureza federal; e o Imposto Seletivo (IS), voltado a bens e serviços considerados nocivos.

Embora o foco da reforma esteja centrado nesses novos tributos, o split payment representa uma ruptura operacional. Pelo modelo, o recolhimento de IBS e CBS ocorrerá no momento da transação comercial. Ou seja, ao efetuar o pagamento — seja à vista ou parcelado — o valor correspondente ao tributo será automaticamente separado e transferido diretamente ao Fisco, sem transitar pelas contas da empresa fornecedora.

A sistemática pode ser ilustrada com um exemplo prático no varejo. Um consumidor adquire uma camiseta por R$ 128,00. Desse valor, R$ 28,00 correspondem ao IBS e à CBS. Ao realizar o pagamento via PIX, a instituição financeira divide o montante no ato: R$ 100,00 seguem para o lojista, e os R$ 28,00 são repassados ao governo. “É uma forma de garantir a arrecadação na origem, eliminando o risco de inadimplência e combatendo o devedor contumaz, aquele que declara o imposto, mas não o paga”, explica Matheus Moreno, consultor da área Fiscal da Econet Editora.

Impacto no fluxo de caixa

A adoção do split payment exigirá reestruturações importantes, sobretudo no varejo. Afinal, o novo modelo afeta diretamente o fluxo de caixa das empresas, ao antecipar o recolhimento dos tributos para o momento da venda. Isso reduz a autonomia financeira dos contribuintes e obriga uma revisão nos controles internos, especialmente em relação ao capital de giro. “Em outras palavras, a empresa receberá apenas o valor líquido da operação. Especialmente em setores com margens apertadas ou prazos de recebimento estendidos, isso pode comprometer a liquidez”, afirma Matheus.

A experiência internacional reforça essa preocupação. Países europeus como Itália, Romênia e Polônia adotaram modelos semelhantes de split payment, mas houve resistência por parte do setor produtivo, especialmente no comércio e nos serviços. Em alguns casos, o sistema foi flexibilizado ou descontinuado justamente pelos efeitos negativos sobre o caixa das empresas.

Maior controle na cadeia de crédito

Outro efeito do novo modelo diz respeito ao controle da cadeia de crédito tributário. Pela nova sistemática, a apropriação de crédito por parte do adquirente estará condicionada ao recolhimento efetivo do imposto na etapa anterior. Na prática, isso fecha o cerco contra empresas fictícias — as chamadas noteiras, criadas para emitir documentos fiscais sem respaldo real. “Se a empresa fornecedora não recolher o IBS e a CBS, o cliente não poderá se creditar. Isso muda a lógica da relação entre comprador e fornecedor”, observa o especialista.

Segundo Matheus Moreno, o sistema também dificulta fraudes estruturadas, pois desloca o papel de arrecadador para as instituições de pagamento, como bancos e operadoras de cartão. O Fisco não dependerá mais da autodeclaração do contribuinte para receber os tributos. “A operação bancária passa a ser o gatilho da arrecadação. Isso aumenta a eficiência da cobrança e reduz o espaço para omissões deliberadas.”

A complexidade se acentua com o projeto de criação de um split payment inteligente, que prevê a compensação automática de créditos apropriados pelo contribuinte antes da transferência do imposto à Receita. Nesse cenário, o banco ou sistema de pagamento deverá cruzar dados fiscais em tempo real, o que demandará infraestrutura tecnológica robusta e integração total entre os sistemas contábil, fiscal e financeiro das empresas.

Formação técnica

Para o consultor da área Fiscal da Econet Editora, a adoção do split payment evidencia um desafio que transcende o sistema bancário ou os caixas das empresas: a formação técnica dos profissionais que operam a tributação. Isso porque o novo modelo exige conhecimento detalhado sobre compensação, controle de crédito, apuração de tributos e integração de sistemas. Assim, contadores, advogados tributaristas, consultores fiscais e gestores de áreas financeiras precisarão dominar não apenas as novas normas, mas também sua aplicação prática no dia a dia das organizações.

“Não se trata de uma simples mudança de alíquota ou obrigação acessória. É uma nova lógica de arrecadação. Isso exige atualização imediata e contínua”, alerta Matheus. “A partir de 2027, quem não entender esse mecanismo corre o risco de tomar decisões fiscais equivocadas, com impacto direto no caixa da empresa.”

A demanda por qualificação especializada levou a Econet Educacional a lançar a pós-graduação “Planejamento, Gestão e Reforma Tributária”, com 360 horas de formação online, combinando aulas ao vivo e gravadas. Voltada a profissionais das áreas contábil, fiscal, jurídica e de gestão, a formação cobre temas como split payment, regimes favorecidos, compensação de créditos, reestruturação do Simples Nacional, Imposto Seletivo, tributação patrimonial, e transição para o novo sistema de arrecadação.

“O curso foi estruturado a partir da realidade enfrentada por quem opera a tributação diariamente. São conteúdos que combinam teoria e aplicação prática, com base nos problemas reais que já estão surgindo nas empresas”, afirma Matheus Moreno.

Com as primeiras fases da reforma previstas para entrar em vigor em 2026, o tempo para adaptação é curto. Para empresas e profissionais, antecipar a curva de aprendizado será essencial para manter a regularidade fiscal e a competitividade no novo cenário tributário. “O split payment é só uma parte da mudança. Mas é, talvez, a que melhor simbolize a nova lógica: mais controle, menos tempo, e muito mais técnica envolvida”, conclui Matheus.

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Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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