A divisão do bolo e o controle da faca

José Pio Martins.
José Pio Martins.

Ao terminar 2016, o Brasil estará com 206,8 milhões de habitantes. A produção nacional – medida pelo conceito de Produto Interno Bruto (PIB) aos preços atuais – ficará em R$ 6,1 trilhões. Se o PIB fosse dividido em fatias iguais entre a população, cada pessoa teria R$ 29.497 por ano, ou R$ 2.458 por mês. Estamos falando em reais. Fazendo a conta pelo dólar PPC (paridade de poder de compra) – que é o dólar usado para medir e permitir comparações com o resto do mundo –, o produto por pessoa fica em US$ 10 mil ao ano.

Essa é a principal medida da pobreza. Somos muito pobres e estamos longe dos países desenvolvidos, cujo produto por habitante passa de US$ 40 mil ao ano – portanto, quatro vezes o PIB por pessoa do Brasil. Aí, vem o governo, com seus funcionários e políticos tripulando os municípios, os estados e a União federal, e retira R$ 2,1 trilhões em tributos (mais de 34% do PIB, que é a tributação efetivamente arrecadada), sob a promessa de cumprir suas funções e melhorar a distribuição da renda por meio dos gastos públicos. E o que acontece? A distribuição da renda piora.

Quem diz isso é o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo federal. No início do governo Dilma, o Ipea publicou os resultados de um estudo preciso, informando que o governo aumenta a desigualdade por diversas vias: remuneração dos servidores públicos 23% acima da média do setor privado para as mesmas funções; previdência social dos servidores estatais muito acima dos trabalhadores privados, para quem o teto do INSS atualmente é de R$ 5.189 por mês, enquanto os servidores se aposentam com salário integral; sistema tributário com muitos tributos indiretos que fazem os pobres arcar com porcentual de sua renda maior que os ricos.

Tudo isso piora a divisão da renda nacional, mesmo com os programas sociais, como Bolsa Família, SUS, seguro-desemprego etc. O Ipea afirma que o Estado brasileiro responde por um terço da concentração de renda. O governo age como um pai que, diante de uma pizza com 100 fatias e dez crianças, afirma que as crianças mais fracas podem ser prejudicadas, anuncia que vai retirar 40 fatias e as dividirá a seu critério para melhorar a distribuição. Só que, para executar sua tarefa, o pai come 20 fatias e distribui as outras 20. Em síntese: as dez crianças, que tinham 100 fatias à disposição, agora só têm 80, porque esse pai terrível (o governo) comeu o dobro do que caberia a cada criança.

O governo é composto por duas categorias: os políticos (eleitos) e os funcionários (concursados). Ambos querem somente três coisas: poder, salários gordos e aposentadorias generosas. No fundo do coração, até podem querer o bem da nação, mas só depois de tirar uma parte para si. O fato é que ninguém é anjo. No setor privado não é diferente. O animal homem é naturalmente egoísta (no sentido de que defende seus próprios interesses), competitivo (entre ele e o outro, que perca o outro) e, claro, também é cooperativo e amoroso.

Entretanto, nesse jogo entre sentimentos egoístas e emoções altruístas, principalmente quando o outro não tem rosto e é apenas uma massa amorfa chamada “povo”, todos querem tirar o máximo para si. Há 100 mil anos não era diferente. O homem acordava e se embrenhava na mata para obter seu alimento. E ali, o instinto de sobrevivência o levava a tirar do caminho todo aquele que competia pela mesma caça. Portanto, novamente Roberto Campos: “Muitos dos que pregam a distribuição do bolo, o que eles querem mesmo é o controle da faca”.

O artigo foi escrito por José Pio Martins, que é economista e reitor da Universidade Positivo.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *